Arquitetura Gótica é um estilo arquitetônico que, junto com a arquitetura românica e bizantina, foi predominante na Europa durante a Baixa Idade Média (século X ao XV).
Durante a Idade Média, a intensificação da exploração marítima e a expansão do comércio europeu fez aumentar a interação entre culturas.
Consequentemente, abriu-se a possibilidade para novas estéticas. As igrejas, que eram os redutos dos representantes do poder clerical baseado no teocentrismo, foram tomadas por novas ideias.
Entre os séculos V e XV, a humanidade presenciou o desenvolvimento de duas linhas artísticas – antes da chegada do renascentismo -, o românico e o estilo gótico (juntamente com a arquitetura gótica).
Este segundo foi popularmente chamado de “obra francesa”, porque surgiu no norte da França.
A arquitetura gótica marcou a história, rompendo com tudo que estava vigente. Conectou as práticas religiosas, especialmente o catolicismo, em igrejas e catedrais.
Aliás, a arquitetura gótica é também conhecida por “a arte das catedrais”.
Isso porque, nesse período, as obras mais conhecidas e grandiosas eram essas.
Exemplos marcantes da arquitetura gótica são a Notre Dame, em Paris, França e a Duomo di Milano, em Milão, na Itália.
Muito das estratégias adotadas pelos arquitetos na arquitetura gótica remetiam a tentativa de enaltecer a superioridade e supremacia de Deus e da Igreja, como veremos a seguir.
Além do gótico, a arquitetura também possui outros estilos incríveis. Saiba mais no post sobre estilos de arquitetura e fique por dentro!
Características da arquitetura gótica
A religião foi muito presente durante o período da arquitetura gótica. O Altíssimo era, verdadeiramente, o centro do mundo para as pessoas.
E esse era, sem dúvidas, o tema mais abordado na arquitetura gótica. Deus estava em cada detalhe desta arte monumental e suntuosa.
Primeiro, tem a questão da verticalidade da arquitetura gótica. Isso estava associado à proximidade com o céu. Não é a toa que as torres das igrejas eram tão pontiagudas e esguias.
A ideia da arquitetura gótica era apontar a obra para o infinito e diminuir o homem, destacando sua insignificância diante das divindades.
A própria iluminação interior – possível por meio do número maior de janelas e portas – era um jeito de banhar sua alma com essa “luz suprema”.
Para ampliar as dimensões dos edifícios da arquitetura gótica, principalmente a altura, eles desenvolveram as famosas abóbadas ogivais – frequentemente decoradas com esculturas.
As abóbadas também eram muito utilizadas nos projetos de arquitetura gótica como sustentação, arcadas e arcobotantes.
Outra característica da arquitetura gótica, e que remetia à religiosidade, era a planta com formato de crucifixo.
A arquitetura gótica de Notre Dame
A história da catedral de Notre Dame começou no ano de 1163, em um terreno na Praça Parvis, na “ile de la Cité”, em Paris, França.
Nesse local, ao lado do Rio Sena, muitas celebrações religiosas já haviam sido realizadas. Primeiro, com os celtas. Mais tarde, com os romanos. E, posteriormente, com os cristãos.
A primeira basílica católica ali construída pelos franceses, no ano de 528 d.C., era a Saint-Etienne.
Esta foi substituída por outra, em estilo românico, que perdurou até 1163. A Notre Dame, dedicada a Mão de Jesus, veio em seguida – quer dizer, mais ou menos.
Ela levou duzentos anos para ficar pronta. Foi erguida em três estágios. E, no final, atingiu dimensões impressionantes.
A arquitetura gótica de Notre Dame apresenta 127 metros de comprimento, 48 metros de largura e 35 metros de altura.
Sua fachada é dividida em três níveis horizontais e três verticais, o que destaca ainda mais suas duas torres, com 69 metros cada.
No ponto mais alto, ao sul, está o conhecido sino “Emmanuel”. No centro da construção mais famosa da arquitetura gótica, em sua nave principal, há uma cobertura abobadada com 210 toneladas, suportada por uma sequência de colunatas.
E na parte externa, marcando o fundo da estrutura, os arcobotantes.
Eles servem não apenas como elementos estruturais, mas também como canaletas para escoar as águas pluviais coletadas na cobertura.
A fachada da Catedral de Notre Dame é ricamente ornamentada com estátuas que retratam cenas bíblicas. O ponto mais marcante é o portal de entrada.
Também se destacam os seus vitrais, sobretudo a roseta, na fachada principal; e as gárgulas espalhadas pelas paredes.
O ambiente interno é tão majestoso que inspirou o escritor Victor Hugo a escrever o romance “O corcunda de Notre Dame”, em 1831.
De fato, desde o início até o século XV da era cristã inclusive, a arquitetura era o grande livro da humanidade, a principal expressão do homem em seus vários estágios de desenvolvimento, seja como força ou como intelecto.
– Victor Hugo.
Notre Dame não só foi pano de fundo de acontecimentos ficcionais, mas também de importantes eventos da história.
Por exemplo, a coroação do rei Henrique VI, em 1431, e de Napoleão Bonaparte, em 1804.
É nela que foi realizada a beatificação de Joana d’Arc, em 1909. E também onde estariam guardados, supostamente, em um pequeno relicário, espinhos da coroa de Cristo.
O triste incêndio na Catedral de Notre Dame
O ano de 2019 deu um duro golpe ao legado da arquitetura gótica. No dia 15 de abril, um incêndio que começou no telhado da Catedral de Notre Dame causou danos consideráveis à obra.
A agulha da catedral e o telhado foram destruídos, e o interior, junto com alguns artefatos, ficaram gravemente danificados.
A reconstrução do maior ícone da arquitetura gótica já foi iniciada, e previsão é que a obra dure 5 anos.
A arquitetura romana também possui obras que foram palco de eventos históricos importantes, sendo que muitas ainda persistem até hoje. Acesse nosso post e descubra quais são.
A arquitetura gótica da Catedral de Milão
Milão é uma cidade que sempre esteve ligada ao simbolismo religioso e ao aprimoramento das artes.
Sua construção iniciou em 1386. A ideia dos governantes era renovar a área e celebrar a política de expansão territorial da família de Gian Galeazzo Visconti, o duque de Milão.
Talvez por isso a catedral tenha ficado imensa. Ela tem 157 metros de comprimento, 109 de largura e 45 de altura.
O Duomo foi considerado a terceira maior igreja depois da Basílica de São Pedro, no Vaticano, e da Catedral de Sevilha.
A atual igreja foi construída sobre as ruínas de San Ambrogio, que foi derrubada em 836 d.C., e de Santa Tecla, que foi destruída em 1075.
Foi uma obra tão complexa que levou 600 anos para ficar pronta – mas só foi finalizada mesmo em 1965.
Era, na época, o maior canteiro de obras da Europa, o que chamou a atenção de centenas de escultores, arquitetos e vidraceiros.
A arquitetura gótica da Catedral de Milão impressiona. Ela é repleta de ornamentações, somando 3400 peças – quase como se fosse um museu a céu aberto.
O restante da decoração fica por conta dos próprios elementos estruturais e seus revestimentos.
Há muitas partes feitas em tijolos cobertos de mármore de Candoglia, o que lhe dá uma beleza cristalina e valor singular.
A arquitetura gótica no Brasil
Durante a Idade Média, não foram erguidas construções góticas no Brasil.
O que houve foi o que se pode chamar de manifestação tardia. Em Portugal, muitas igrejas e castelos haviam sido construídos nesse estilo. Mas, mesmo lá, a transição entre uma manifestação artística e outra foi lenta.
E até chegar o renascentismo, foi desenvolvido um tipo de arte intermediária, a manuelina – devido ao reinado de D. Manuel I.
Todo esse conhecimento estético chegou ao Novo Mundo com os portugueses, entre os séculos XV e XVI. Ao mesmo tempo, na Europa, o neogótico incentivava a volta dos elementos góticos aplicados às construções.
Por isso, quando se fala em “estilo gótico brasileiro” estamos nos referindo ao “neogótico”. E, a partir de D. Pedro II, esse estilo logo se popularizou.
A arquitetura barroca é outro estilo vindo da Europa que se tornou popular no Brasil. Descubra mais em nosso post.
Exemplos da arquitetura gótica no Brasil
- Igreja do Santuário do Caraça e Catedral Nossa Senhora da Boa Viagem, em Minas Gerais;
- Catedral de Petrópolis e Palácio da Ilha Fiscal, no Rio de Janeiro;
- Catedral de Santos e da Sé, em São Paulo;
- Catedral Metropolitana de Fortaleza, no Ceará;
- Catedral Metropolitana de Vitória, no Espírito Santo.
Os vitrais na arquitetura gótica
Os principais elementos artísticos da arquitetura gótica são os florões, as gárgulas, as rosáceas e os vitrais.
Estes últimos são pedaços de vidros coloridos, unidos, formando desenhos.
Eles foram usados como ornamentos das fachadas para os interiores das catedrais da arquitetura gótica.
Mas o berço da pintura em vidro é a região de Ilê, na França, no século X.
Infelizmente, há poucas amostras reais existentes desse período. Os trabalhos evoluíram e chegaram à arquitetura gótica como elementos essenciais.
Eles permitiam a maior entrada de luz nas construções, remetendo ao divino, à consolidação de um novo ideal e a uma atmosfera mais mística.
Um exemplo é a Igreja de Saint Denis.
As imensas janelas apresentavam desenhos geométricos ou representações de santos e passagens bíblicas.
As combinações eram variadas.
Cores empregadas nos vitrais da arquitetura gótica
- Tons fortes de azul e vermelho, em obras francesas;
- Tons suaves de amarelo, verde e azul, em obras alemãs e inglesas.
Elas ficavam nos pontos mais ao alto dos estabelecimentos, geralmente, em regiões próximas da fachada principal ou mesmo no transepto.
Os raios solares atravessavam o vidro e adentravam no espaço interno formando a visão medieval do paraíso.
Esse efeito é um exemplo de como as cores na arquitetura podem impactar no resultado do projeto. Acesse nosso post e aprenda a usá-las a seu favor.
Se você gostou da arquitetura gótica, então vai adorar conhecer a arte e arquitetura sacra, outro estilo voltado para a religião. Descubra qual a relação da arquitetura com o divino em nosso post.
Fonte: Viva Decora